sábado, 20 de outubro de 2007

antes de mais, um pedaço de memoria

Não pretendo abandonar sem luta o jogo de acreditar. Ironizo. Como se o precipício fosse um lugar cheio de operários da construção civil e eu pudesse dizer, enfadado, que não há público para a minha morte.

Talvez fosse um olhar apanhado por acaso, no ocaso do dia. Talvez nem fosse o olhar mas o reflexo dos faróis numa memória qualquer. Talvez fosse apenas a vontade de vos dizer: ainda vivo. Talvez fosse morrer.

Não sei se é o corpo cansado ou apenas puro esquecimento. Ou, ainda antes disso, um medo qualquer de qualquer coisa. Podia ser a morte ou apenas a simples palavra. Ou, antes disso, uma qualquer memória. Podia ser, se eu soubesse, podia ser.

Seria necessário escrever, se existissem as palavras, ou se os sussurros que ouço não fossem ramos de árvores passeando-se pela noite. Poderia ser a noite, ou um vazio profundo. Ou, ainda antes de mim, uma criança que chora.

Podia ser que ela vos dissesse: podia ser.